Pular para o conteúdo principal

Eduardo Azeredo não desiste de controlar a Internet

É simplesmente impressionante a capacidade do senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG) em defender entulhos autoritários na Internet. Como se sabe, Azeredo ainda não desistiu, aliás nunca desistiu, da sua idéia nazifascicomunista de cadastramento de usuários de Internet no Brasil e o seu atual substitutivo tem brechas para a criação de cadastros de usuários e como ele próprio diz, "[s]ó pessoas mal-intencionadas teriam a preocupação de divulgar esses dados", ou seja, pessoas bem-intencionadas não teriam a preocupação de ver seus dados pessoais sendo divulgados sabe se lá para quem, pervertendo a enraizada noção de presunção de inocência.

Uma novidade azerediana foi o bizarro conceito de "defesa digital", onde Azeredo quer legalizar o faroeste digital, dando proteção legal para todo e qualquer malfazer que se enquadre no inovador e imbecil conceito de "defesa digital". Ah sim, o conceito de "defesa digital" é considerado inconstitucional para o presidente da Safernet (uma ONG por qual não tenho nenhuma simpatia), Thiago Tavares. Azeredo, obviamente, não se conteve e disse mais outra bobagem (de várias), “[e]sse direito só deve ser usado quando realmente necessário. É como quando uma pessoa reage a uma agressão com um soco: caberá ao juiz decidir se aquele contra-ataque foi usado de maneira adequada.” Ou seja, há violações de privacidade e há violações de privacidade. Digamos, haveria violação de privacidade e haveria, quem sabe, "defesa digital", dependendo de quem fosse o perpertrador. Algo bastante condizente com uma lei penal que precisa ser específica.

Outro ponto do substitutivo é a manutenção de dados sobre acessos, outra bobagem autoritária que é invenção de Azeredo. Num país desenvolvido chamado Alemanha, que já teve o infortúnio de ser castigada por duas ditaduras, a Justiça determina que provedores apagem, eu disse apaguem, registros de acessos de seus usuários. Já na Terra de Azeredo, o presidente da Associação Brasileira de Provedores de Acessos, Serviços e Informações da Rede Internet (Abranet), Eduardo Parajo, disse que tal medida acarretaria em possíveis aumentos de custo aos usuários, dizendo que "[i]sso pode encarecer bastante os serviços oferecidos pelos provedores brasileiros". Azeredo, claro, não seria diferente, solta uma dizendo que os dados de conexão poderiam ser gravado em "CD-ROM". Ora que legal, os dados de conexão dos usuários em dispositivos móveis, isto é, um convite para o comércio ilegal de dados de conexão. Imagina só o mercado que vai se formar de gente maliciosa querendo comprar informações que possam dizer o que o usuário acessou e quando acessou.

Para mim, está mais do que claro que o senador Azeredo não está querendo combater o crime na Internet mas sim dificultar o acesso a mesma por meio de controles autoritários à China e por meio de encarecimento do acesso a Internet, onde apenas 21% da população com mais de 10 anos tem acesso a rede. Ora, se a grande questão do combate ao crime fosse identidade não haveria crime no sistema financeiro, e, continuando o raciocínio, países como Canadá e Irlanda seriam antros da criminalidade, ao contrário de países como Colômbia, Brasil e África do Sul, que tem documentos de identidade e taxas altíssimas de criminalidade. Todos sabemos que transações eletrônicas deixam rastros e que esses rastros são únicos a cada pessoa, seja pela linguagem, seja pela expressão dessa linguagem. O grande problema da criminalidade é a impunidade, que, aliás, rola solta dentro do Senado Federal.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Quero ver tu achares uma constitucionalidade

Ophir Cavalcante Junior, diretor tesoureiro da OAB falou ao 1º Encontro Nacional de Identificação do Polícia Federal e fez vários questionamentos sobre a constitucionalidade do Registro Único de Identificação Civil, oficialmente conhecido como Cadastro Único (CU). Como diz a reportagem : Uma das principais preocupações da OAB com o sistema único de identificação, observou, é de que ele possa representar violação aos direitos fundamentais e garantias individuais, previstos no artigo 5° da Constituição, ou favorecer no futuro o fortalecimento do autoritarismo e de um Estado policial, ante o eventual enfraquecimento ou desaparecimento da democracia no País. Meu Deus do Céu! A OAB ainda tem dúvidas sobre a "violação aos direitos fundamentais e garantias individuais" que o CU pode inflingir sobre as pessoas no Brasil? A OAB já ouviu falar em Ahnenpaß ?

Eu vejo a luz!

Não. Eu não estou falando de um fato eleitoral ocorrido esta semana (algo que não aconteceria se Mitt Romney fosse o candidato). Estou falando de um comentário que recebi. A um bom tempo atrás, ainda em abril de 2006, mandei um e-mail para a ONG SaferNet perguntando quem a financia, essas coisas da vida. Esperei sentado, deitado, caminhando, correndo e de outras formas e nada. Eis que a luz aparece para mim nesta madrugada. O leitor Leandro (sem sobrenome) deixa um comentário que transcrevo na íntegra: Quem são os agentes envolvidos? O próprio site da Safernet ajuda a descobrir: http://www.safernet.org.br/site/institucional/redes/inhope E esta Inhope: https://www.inhope.org/en/partners/partners.html https://www.inhope.org/en/partners/sponsors.html Sabendo-se quem é principal patrocinador desta rede dá para entender porque a Safernet implica tanto com o Google e o Orkut. Como fazia um tempinho que não acessava o site da SaferNet, notei que eles mudaram o layout da página. Indo ao pri

Privacidade, algo que passa TRI longe

Esqueci-me de postar um pedido de acesso à informação que fiz à Prefeitura de Porto Alegre sobre o TRI , o sistema de bilhete eletrônico dos ônibus portoalegrenses. Fiz o pedido em 8 de março, com prazo para 11 de abril, mas só recebi a resposta no dia 7 de maio. A despeito da demora, a pessoa que me respondeu fez a gentileza de responder-me usando meus questionamentos, ao invés de elaborar uma resposta geral e separada. Abaixo as perguntas e as respostas. Prezado(a) Sr.(a) Relativo ao seu pedido de informação ao Município de Porto Alegre, informamos o que segue:  - Existe uma política de privacidade para o programa? Se sim, gostaria de receber uma cópia de tal política. Não existe um Documento formal, entretanto a política adotada é de confidencialidade e privacidade dos dados.  Eles lidam com uma quantidade considerável de dados, que permitem rastrear uma pessoa dentro de Porto Alegre mas não formalizaram uma política de privacidade, utilizando-se apenas da esotérica exp